domingo, maio 21

O colombiano

A aparência é de uns 60 anos, embora ele não deva ter mais do que 50. Magro, cabelo bagunçado, desdentado, camiseta desbeiçada. Ele nos abordou no aeroporto de Campo Grande perguntando, num espanhol de difícil compreensão, se iríamos à Corumbá. Sim, íriamos, até sabermos que por conta do mau tempo o vôo estava cancelado. Um ônibus nos levaria à "Capital do Pantanal" em uma viagem de aproximadamente seis horas.
O ônibus chegara. Entramos, e as duas jornalistas que estavam comigo logo se acomodaram numa dupla de poltronas. Continuei pelo corredor e me deparei com ele, gesticulando, me convidando a seguir viagem ao seu lado. Antônio, colombiano de Bogotá, é artista plástico e estava indo ao Festival América do Sul para expôr seus trabahos, os mesmos apresentados por ele na Venezuela ao longo de todo o mês de abril. Ele havia pego um avião na capital colombiana, feito uma escala no Panamá e chegado em Cumbica por volta das 4 da manhã, sendo que o vôo para a capital sul-matogrossense estava marcado para pouco depois das 3 da tarde.
Me disse que ficou impressionado com o nascer do sol em São Paulo. A lua descendo, o sol subindo, o friozinho do fim da madrugada. "Uma grande experiência". Vejam só! Segundo ele, o sol na Colômbia é forte o ano todo devido à linha do Equador. Logo, ele desconhecia "o nascer do sol do outono".
Outro fator que chamou a atenção do colombiano, ainda no aerporto de Guarulhos, foi a imensa propaganda da Petrobrás exibindo o logo da auto-suficiência. "Ohhh! Muito bom para o Brasil. A Colômbia já teve muito petróleo no passado, mas as empresas estrangeiras acabaram com ele", me disse. Também por isso ele apóia a nacionalização do gás e do petróleo na Bolívia. "Evo nacionalizou as reservas, não desapropriou a infra-estrutura. Ele é sagaz, mais inteligente do que muita gente pensa. Pela primeira vez a Bolívia tem um indígena no poder".
O ônibus começou a andar e o ar condicionado foi ativado. Eu só de camiseta. Antônio tirou uma malha de sua pequena bolsa - o mesmo lugar onde guardava também toda a quantia de dinheiro que havia trazido para a temporada de sete dias no Brasil, R$ 20 - e me ofereceu.
Ao longo da viagem ele perguntou se eu conhecia o Rio de Janeiro, que ele achava "muy bonito". Eu disse que não. Perguntou se eu conhecia a Amazônia. Eu disse que não. Foz do Iguaçu. Eu disse que não. Ele me disse que, se caso ganhasse algum dinheiro ao longo do festival, iria às cataratas.
Antônio Caro, artista plástico, ministrante de uma oficina de criatividade visual no Festival América do Sul, "el maestro colombiano", como definiu um site venezuelano.