sexta-feira, junho 30

Consciência


Puts, acho que agora, ainda mais, eu passei a concordar com aquela frase que diz que "conhecer o passado é fundamental para se entender o presente". Talvez a frase não seja bem esta; acho até que não é; mas se realmente não for, ela tem este significado. Digo isso porque acabei de assistir ao quinto e último episódio do documentário "Histórias do Poder - 100 Anos de Política no Brasil", exibido pelo programa DOC Brasil, da TV Cultura.
O trabalho todo consiste no registro histórico da política brasileira, contado por meio de 70 entrevistas concedidas, basicamente, por seus mais importantes personagens nas últimas décadas. Pessoas como os presidentes José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula, seus principais ministros e secretários, o arquiteto Oscar Niemeyer, o jornalista Mino Carta, a atriz Fenanda Montenegro, dentre outros.
Diversos foram os temas que me fizeram pensar, refletir. Acho que a principal constatação, uma coisa clara, mas que muitas vezes nós não nos damos conta, é a de que as atitudes tomadas por aqueles caras que estão lá longe, em Brasília - aqueles caras que a gente só vê na tevê e nos jornais, que nos parecem tão distantes, que possuem um poder tremendo nas mãos, concedido pelo meu voto e pelo seu - afetam diretamente as nossas vidas. É um clichê, eu sei, mas é a mais pura verdade.
Gostaria de escrever um pouco daquilo que aprendi e pude concluir assistindo ao documentário. Escrever sobre a inflação (de onde veio, porque ocorre, que males ela traz, como os governos tentaram segurá-la, o preço que pagaram por isso, etc), sobre a cultura do voto nulo (a quem não interessa este tipo de manisfestação, a quase inexistência desta cultura no Brasil), sobre a dívida externa brasileira (como começou, como se agravou, suas consequências para o povo), mas já são 3h05 da madrugada e eu preciso dormir. Quem sabe não escrevo sobre tudo isto mais pra frente?
Porém, ficam aqui a sugestão do documentário "Histórias do Poder - 100 Anos de Política no Brasil" e a esperança simplistamente descrita de que todos, um dia, compreendam que somente a informação, o conhecimento histórico e a mudança de consciência poderão mudar o mundo.

quarta-feira, junho 28

Atrasado


A idéia é escrever sobre Copa do Mundo. Mas, como eu deixei pra falar sobre ela apenas agora, passado quase metade do torneio, os assuntos se acumularam e não daria pra falar sobre todos eles. O jeito é escolher um e escrever, ou tentar resumir tudo o que aconteceu até o momento. Vamos ver o que acontece!

Impressões iniciais

Os dois primeiros jogos do Brasil na Copa foram bem chatos de se assistir. Se foi chato pra nós, brasileiros, imagine pros milhões que pelo mundo acompanharam as partidas. Não que isso tenha muita importância, é só uma curiosidade. Pois bem, voltando, quais serão os motivos que tornaram estes jogos tão sonolentos?
A opinião quase que unânime é a de que o Brasil jogou mal, foi lento e ousou pouco. Concordo, mas acredito que a Croácia e a Austrália foram bem, muito bem, e conseguiram anular o Brasil em boa parte das partidas. Nos salvamos graças aos talentos individuais. Os torcedores brasileiros, mal acostumados como são, dizem que o Brasil jogou mal, e não que os outros times foram bem.
Para que jogos fossem legais de se assistir, no entanto, os dois times teriam que vir pra cima do Brasil, como numa luta franca de boxe. Mas vir pra cima significa abrir espaços, e espaços são tudo o que o jogadores brasileiros mais gostam - eles costumam ser letais quando jogam à vontade. Logo, valeria a pena para Croácia e Austrália virem pra cima, tornando o jogo legal para quem está assistindo do sofá de casa, da mesa do bar ou da redação do jornal, colocando em cheque a suas chances de vitória? Claro que não. O melhor estilo de jogo foi o adotado: aquele jogo truncado, jogado lá atrás, na defesa. Os nossos dois primeiros adversários fizeram isso muito bem e dificultaram bastante os jogos.
Veio o Japão e a história foi diferente: os comandados do galinho precisavam da vitória e vieram pra cima. O Parreira Pé-de-Uva colocou meia dúzia de reservas, que entraram babando mais que os cachorros que o Joãzinho matou de cansaço na volta de um 'passeio' à gloriosa Usina Santa Adelaide, e o jogo foi bem melhor. O Ronaldo, que não havia conseguido marcar nos dois primeiros jogos, finalmente desencantou.
Chegaram as oitavas, e o jogo contra Gana, hoje, foi atípico a ponto de quebrar em tese a minha teoria dos 'espaços no campo', levantada no quarto parágrafo. Gana veio pra cima, jogou na ofensiva, abriu espaços. O Brasil jogou atrás, na defensiva. A situação se inverteu. A minha teoria foi quebrada em partes porque o jogo não se tornou mais bonito de se ver por conta da postura ofensiva de Gana. Ela não foi quebrada por inteira porque os nossos jogadores foram letais diante dos espaços abertos pelos ganenses (ganeses?).
E o Femônimo? Agora fica a dúvida: será que ele vai continuar marcando gols, agora contra adversários bem mais tradicionais? Tomara que sim. Já os nossos lateriais, Cafu e Roberto Carlos, não estão sendo nem sombra daquilo que foram em 2002. O Cafu parece que está mais preocupado com os recordes pessoais, embora tenhamos que reconhecer que também estaríamos caso estivéssemos no lugar dele. No banco de reservas aparece o Cicinho, com olho de tigre, como o Rocky Balboa às vésperas da luta com o Apollo Creed.
O Brasil está vencendo, e isso é o que importa. Pra mim, a Copa do Mundo começou agora.

terça-feira, junho 13

De eles

Madrugada de segunda para terça-feira, véspera do primeiro jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo da Alemanha. Entreguei meu TCC hoje depois de ter passado por um período árduo, digamos, mas de muito aprendizado. Afinal, nada acontece por acaso.
Chego de onde estava, ligo a tevê e vejo três entrevistas com três pessoas bem diferentes, em três situaçãoes dissemelhantes abordando três temas distintos: Heloísa Helena falando de política, um gringo especialista em biodiversidade ministrando palestra sobre meio ambiente e uma entrevista com o Ronaldo Fenômeno, falando de suas condições físicas.

Da Senadora Sargentão

Heloísa Helena é uma mulher que, quando mencionada, faz com que venham à cabeça das pessoas imagens de uma mulher sempre brava, briguenta, aparentemente autoritária. Excetuando-se a última característica, Heloísa, acredito, é tudo isso mesmo. Afe, uma mulher, brava daquele jeito... Uma criança que tenha passado pela TV Cultura enquanto zapeava deve ter ficado ressabiada com ela. Eu ficaria. Mas, se tivermos a oportunidade de assistir a um debate que tenha a senadora como participante, veremos que ela é muito mais do que isso.
Rodeada por jornalistas conservadores, Heloísa Helena foi duramente alvejada. No conjunto da obra, porém, saiu-se muito bem e acabou por vencer a batalha, conseguindo o respeito - se ainda não tinha - destes mesmos jornalistas, às vezes de maneira inconsciente para alguns deles. Até porque o discurso pregado por ela é o discurso perfeito, que deixaria em maus lençóis qualquer pessoa que emitisse opinião contrária, e que, se colocado em prática, poria em risco a vida daqueles que se beneficiam da pobreza.
Já cheguei a achá-la oportunista pelas duras críticas que frequentemente faz ao presidente. Mas, tendo a oportunidade de ouvi-la por mais tempo, passei a ver que ela é um bom caminho. Basta que tenhamos coragem de arriscar.

Do Gringo "Biodiversidadecista"

O gringo começou a falar de biodiversidade logo após o término da entrevista com a senadora. Foi durante um palestra gravada, transmitida pela Cultura. As informações passadas por ele eram tão valiosas e suas colocações tão brilhantes que eu fui obrigado a não preparar o meu santo lanchinho de cada dia. Ou melhor, de cada noite. E olha que isso é difícil, viu?
Dentre outras coisas, o gringo disse que nós, vertebrados, somos apenas uma ínfima parcela dos seres vivos do planeta. Somos quase nada quando comparados, por exemplo, às milhões de espécies de microorganismos existentes, muitas delas originadas simultaneamente à gênese do planeta. Microorganismos tão desprezados por nós e tão importantes pra gente. Pra gente, isso mesmo! Afinal, nós vivemos em meio a um ecossistema, e esses microorganismos contribuem para a vida das plantas, seus habitats naturais, que fazem parte do mesmo ecossistema. Plantas que juntas formam florestas. Florestas que emanam ar puro para todo o globo. Ar puro que é essencial para a sobrevivência humana. Humanos que poluimos o ar e destruímos florestas, acabando com o ar puro, com as plantas, com os microorganismos e, num futuro não tão distante, com os próprios humanos.

Do Fenômeno

O Ronaldo Fenômeno é habilidoso tanto dentro quanto fora de campo, e isso é indiscutível. Ele parte pra cima dos adversários com a mesma eficiência com que contra-ataca uma afirmação do Presidente da República. As duas últimas polêmicas envolvendo o jogador dizem respeito às bolhas nos pés e à constante briga com a balança.
Na Copa de 2002, depois de quase dois anos de uma heróica recuperação, Ronaldo voltou a disputar uma Copa do Mundo. Arrebentou. Mas, nos dias que antecederam o antepenúltimo jogo da seleção naquela Copa, começaram a crescer os rumores de que sua contusão, aquela mesma que o havia tirado dos gramados por tanto tempo, o estaria incomodando novamente e ameaçando sua participação no restante da competição. O que fez ele? Cortou o cabelo no melhor estilo Cascão e mudou completamente o foco das atenções. Passou-se a falar apenas do cabelo. A contusão? Essa ficou pra trás.
Em 2006, Ronaldo apresenta-se visivelmente "mais forte" que os demais jogadores, o que ficou claro nos dois últimos amistosos da seleção. Hoje, durante entrevista à Cristiane Pelajo, o Fenômeno pela primeira vez admitiu que não está na sua melhor forma, que está fazendo treinamentos especiais para atingi-la e que não aguentaria jogar os noventa minutos de uma partida. Humm. No jogo contra a Nova Zelândia, ele saiu no final do primeiro tempo alegando estar com terríveis bolhas nos pés. E passou-se a falar apenas das bolhas. A forma física? Essa ninguém fala mais.
Mas Ronaldo é Ronaldo, e o cara é especialista em Copa do Mundo. Que a forma física e as bolhas não o atrapalhem logo mais no jogo de estréia!

sábado, junho 3

A utopia de X-men 3


Mais do que um puta filme de ação, do que uma épica luta entre o "bem" e o "mal" ou, ainda, do que uma tradicional história de amor, X-men 3 é um filme que faz uma grande analogia quanto à geopolítica atual, no que diz respeito aos conflitos militares e ideológicos entre ocidentais e muçulmanos. A tolerância entre os diferentes povos, sua principal mensagem, soa utópica neste mundo cada vez mais contaminado pela ignorância e pela busca do poder.
De um lado, os homens, os "homo sapiens", os americanos, que fazem o papel dos ocidentais. De outro, os mutantes, os muçulmanos, liderados por Magneto, o Osama Bin Laden. A intolerância dos americanos em relação aos mutantes, os diferentes, e o ideal estadunidense de padronização mundial, um padrão baseado na cultura americana, são tamanhos que o governo americano desenvolve um antídoto capaz de curar os mutantes desta "doença" e transformá-los em homo sapiens. Desta forma, estariam eliminadas as diferenças entre as duas raças.
No mundo real, o antídoto estatudidense nada mais é do que o "American Way of Life", a disseminação mundial da cultura americana, da música americana, do cinema americano (o vazio), do fast-food americano, das roupas americanas, do comportamento americano.
Magneto, que passa a imagem de símbolo da resistência mutante, vê na criação deste antídoto uma forma de barganhar cada vez mais "peões" para o seu exército. Um de seus maiores seguidores não à toa recebeu o nome de "Fanático", um mutante extremamente vigoroso fisicamente, mas dotado de um cérebro pouco pensante. Osama Bin Laden, que passa a imagem de símbolo da resistência muçulmana, vê na imposição do American Way of Life uma forma de barganhar cada vez mais peões para seu exército.
Na verdade, o que querem tanto Magneto e os homo sapiens no filme quanto Osama Bin Laden e os americanos na vida real é impor cada um o seu modo de vida, tomando para si o controle do poder. No filme, o meio termo entre os homo sapiens e os mutantes liderados por Magneto é a escola do Professor Xavier, que trabalha para uma convivência harmônica entre mutantes e homo sapiens. O Professor Xavier, aliás, é mais um herói que morreu (será?) sem ter visto o sonho realizado - uma sacada explícita.
Ingênuos aqueles que, a esta altura do campeonato, ainda não se aperceberam quanto ao ideal estadunidense de padronização, executado por meio do American Way of Life. Inocentes aqueles que pensam que Osama Bin Laden e sua Al Qaeda realmente lutam por um ideal muçulmano.
Falta-nos no mundo uma escola como a do Professor Xavier.