sexta-feira, setembro 3

Viajando de trem, ontem e hoje















Acho que são poucas as pessoas nascidas na década de 80 - a minha geração - que viajaram nos trens da Fepasa, aqueles que nossos avós adoravam e contavam mil histórias sobre viagens românticas do passado. Eu viajei quando era criança e vou dizer que não foi uma vez ou outra não, viu? Foram várias, entre o início e a metade dos anos 90, quando ainda morava numa pequena cidade do interior de São Paulo chamada Dois Córregos, a capital nacional da macadâmia! Naquela época, eu e meu irmão passávamos todas as férias escolares aqui em São Paulo, e muitas das vindas para cá eram feitas de trem. Não por questão de preço, conforto ou rapidez, mas porque meus avós, que moravam em São Paulo, adoravam. Eles faziam questão de ir a Dois Córregos nos buscar, de trem, claro, e então voltávamos os quatro nos vagões da Fepasa.

Mas olha, não era fácil não, pelo contrário: viajar de trem era uma tortura (os saudosistas vão querer me matar, mas é verdade!), pelo menos para nós, crianças de 10, 11 anos. O trem já chegava em Dois Córregos atrasado - nós ligávamos na estação para saber se ele estava no horário ou não. Embarcávamos e muitas vezes não havia lugar para sentar - tínhamos de esperar sentados em cima das malas, ou em pé, até que alguém descesse nas próximas cidades e um banco fosse liberado. A batalha seguinte, então, passava a ser o marasmo de viajar sete, oito, nove horas naquele calor, trem lotado, funcionário passando no corredor vendendo pão murcho com mortadela de ontem. Jesus!
Ocorre que neste final de semana eu vivi uma experiência nova relacionada a viagens de trem: fui para Curitiba e fiz um passeio a bordo do Great Brazil Express, trem de luxo administrado pela Serra Verde Express. Nada de lotação, calor ou pão com mortadela. Aí sim uma viagem com aquele toque de romantismo dos "anos de ouro" das viagens ferroviárias. O trem é super bacana, com aquela pinta de luxo dos anos 60, poltronas em veludo vermelho, outras de couro marrom-escuro, móveis de madeira, abajures, lustres, quadros.








































E o roteiro que fiz é bem interessante: o trem sai da estação ferroviária de Curitiba pela manhã e segue para o município de Morretes, em um trecho de 67 quilômetros feito numa ferrovia construída há quase 130 anos em plena Serra do Mar. O visual é lindo: floresta de Mata Altântica preservada, cachoeiras, corredeiras.

Em Morretes, cidade histórica do século 18, a parada é para o almoço, que tem como principal chamariz um prato típico paranaense chamado barreado (carne bovina cozida em panela de barro durante 15 horas, temperada com coentro, bacon, alho, cebola e loro e saboreado com farinha de mandioca semi-torrada e banana). Paralelamente ao barreado, os restaurantes locais costumam servir porções saborosas de camarão, peixe e derivados.
Após o almoço, mais três horinhas de viagem até Curitiba, momento em que o sono vai bater, com certeza. Afinal, você comeu muito bem, está numa poltrona super confortável, o trem tem aquele leve balanço. Não resista, aproveite a paisagem até onde der e se entregue a um bom cochilo.