sexta-feira, agosto 4

The israeli

É verdade, três textos falando da guerra no Líbano é muita coisa. Se bem que dependendo do que continuar acontecendo por lá outros poderão vir.

Iddo é um israelense que eu conheci em Corumbá, Mato Grosso do Sul, na viagem que fiz em maio pra cobrir o Festival América do Sul. Foram sete dias de convivência e muita coisa aprendida.

- Em Israel os jovens passam três anos no exército, mas recebem uma espécie de salário todo mês. A maioria guarda esse dinheiro e ao término do período viaja por aí - me disse.

Antes de chegar a Corumbá, Iddo já tinha conhecido umas duas ou três cidades da Argentina. Veio pro Pantanal e, antes do Festival, passou uma semana no meio da floresta, na companhia de outras dez pessoas, a maioria gringos, sem energia elétrica, sem repelente, tomando banho de rio, dormindo em redes... Esquema mais roots impossível!

- E esse cabelão? - brinquei certa vez, me referindo ao cabelo cacheado dele, razoavelmente comprido.

- Eu não vou cortar tão cedo porque cabelo curto me lembra o exército.

Em uma outra ocasião falamos sobre o tempo, e ele me disse que não usa relógio porque relógio o remete a regras, e regras lembram o exército.

Esta semana nos encontramos no msn.

- E aí, amigo! Como está?- iniciei a conversa no meu inglês bem razoável.

- Hola, amigo. Eu estou em Cuzco, Peru. Farei uma caminhada de cinco dias chamada "Salkantay" que termina em Machu Pichu. Te mandarei as fotos.

- Pô, legal! E do Peru você vai pra onde?

- Vou pro Equador, Galápagos, depois entro no Amazônia e parto para Manaus e Belém - só pra constar: antes do Peru ele passou pela Bolívia,onde conheceu praticamente todo o país.

Aí, a minha curiosidade jornalística entrou em ação e eu toquei num assunto um tanto delicado.

- Hey, você tem visto a guerra entre Israel e o Hezbollah? - perguntei.

- Ya, not nice.

- Triste, mas isso não importa tanto pra você agora, já que está bem longe do conflito - disse o cabeça de bagre aqui.

- Nem tanto. Eu só espero que ninguem que eu conheça seja ferido. Mas uma pessoa conhecida já morreu em um acidente de helicóptero.

Essa pessoa não era uma tão próxima a ele, embora os dois tivessem estudado juntos na escola. Enquanto isso, eu ficava cada vez mais curioso.

- Sua família e amigos próximos estão perto ou até mesmo lutando na guerra?

- Não, nós estamos no centro do país, não no norte ou no sul.

- Existe a possbilidade de você ser convocado pelo exército quando voltar pra lá?

- Naaaa, eu não acredito, eles têm que me dar "a year off". Apenas me chamariam se houvesse uma guerra muito grande.

E é o que está acontecendo, principalmente para Israel. Há uns dois dias, o exército convocou 15 mil reservistas que se juntarão às tropas no Líbano.

- Eu saberei disso (se será convocado) quando voltar pra casa, em janeiro - disse ele.

- Me desculpe por falar de guerra com você, é que eu sou um curioso de primeira.

- I dont mind.

Iddo ecreveu um livro sobre a viagem pela América do Sul e está terminando um segundo, ambos em hebraico.

São por essas e outras que a gente vê que os verdadeiros filhos da puta numa guerra são aqueles caras que estão lá em cima, comandando, mandando os filhos dos outros pra batalha, e não o povo do país opressor ou até mesmo seus soldados, que muitas vezes não compartilham da causa lutada. O Iddo é um jovem como eu, como você, que ficou confinado durante três anos da juventude no exército e agora só quer saber de viver. E pensar que muitos dos caras que lutam, matam e morrem numa guerra são pessoas como ele...











São só dois os gringos: Lily e Iddo

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