quinta-feira, abril 2

Tsunami de La Paz

Em 2007, o Flamengo foi a Potosi, na Bolívia, e fez um jogo heróico contra o time da casa, o Real Potosi, pela Libertadores da América. Jogando há quase quatro mil metros de altitude, o time do Zico não viu a cor da bola no primeiro tempo e começou perdendo por 2x0. Na segunda etapa, mesmo sofrendo com a falta de oxigênio, os cariocas fizeram dois gols e conseguiram segurar o empate até o final.

Após o jogo, a já tradicional polêmica surgida sempre que um time brasileiro vai jogar na altitude entrou em cena, com o presidente do Flamengo chegando a dizer, inclusive, que sob a gestão dele o Mengão nunca mais subiria a montanha para jogar. Depois de muito burburinho e diz que me disse, a Fifa resolveu intervir e proibiu jogos internacionais em cidades localizadas acima 2.500 metros do nível do mar.

Não demorou e os presidentes da Bolívia e da Venezuela, Evo Moralez e Hugo Chavez, que adoram politizar e polemizar, promoveram diversas ações com o objetivo de mostrar que jogar na altitude não fazia mal à saúde. Uma delas foi uma 'pelada' no estádio Hernando Siles, em La Paz, há 3.500 metros, que teve a participação de Morales e de Diego Armando Maradona, amigão de Fidel, guevarista de tatuagem e camarada de Hugo Chavez.

Três anos se passaram, a Fifa voltou atrás na resolução que proibia os jogos nas alturas e Maradona virou técnico da seleção argentina. Ontem, no mesmo Hernando Siles, o dono da 'mano de Dios' comandou os hermanos em uma das maiores sovas da história do futebol argentino: Bolívia 6x1 Argetina.

Depois do jogo, a imprensa brasileira, que também adora politizar, ainda mais quando tem esquerdista sul-americano no meio, atribuiu a derrota unicamente à altitude, como se a Bolívia não tivesse entrado em campo, como se a Argentina tivesse jogado muita bola. Hoje, uma das matérias publicadas no site do Olé, principal jornal esportivo argentino, falou sobre aqueles que eles consideram os responsáveis pela derrota. "Diego, como conductor y como estratega, es el mayor responsable del tsunami de La Paz". O título da matéria: "Diego 40%, altura 20%, jugadores 30% y Bolivia 10%".

Que jogar em cima da montanha favorece o time da casa, acho que ninguem mais dúvida. Me parece óbvio. O que não pode é ficar martelando na idéia de que, sozinha, a altitude ganha jogo - imprensa e jogadores brasileiros adoram colocar a culpa na altitude depois de algum fiasco. Se altitude ganhasse jogo, a Bolívia golearia todas as seleções que vão a La Paz, e o Real Potosi, do mesmo modo, esmagaria os times que se aventuram em Potosi. Definitivamente, essa não é a regra.

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